O autismo na vida adulta ainda é um tema pouco discutido, mas essencial para garantir qualidade de vida e inclusão. O diagnóstico, ainda que tardio, é fundamental para o autoconhecimento e o desenvolvimento da independência. Neste post, vamos falar sobre os sinais, o diagnóstico tardio e o tratamento do autismo em adultos, para ampliar a compreensão sobre essa condição e promover a inclusão e o respeito aos adultos autistas.
O que é o Autismo?
Primeiramente, é importante esclarecer o que o autismo não é: ele não é uma doença, mas uma condição do neurodesenvolvimento que reflete uma variação no funcionamento cerebral. O Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo o DSM-5 – manual de diagnósticos e estatístico de transtornos mentais –, é classificado como um transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, com início no período do desenvolvimento. Os sintomas aparecem geralmente nos primeiros anos de vida, porém isso não impede que o diagnóstico aconteça somente na vida adulta.
Os principais sinais do autismo envolvem dificuldades na comunicação social, na interação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Porém, a intensidade desses sintomas pode variar muito de pessoa para pessoa (por isso falamos em espectro).
Autismo na vida adulta: por que o diagnóstico é tardio?
Muitos adultos só recebem o diagnóstico de autismo depois dos 30, 40 anos ou até mais tarde. Isso ocorre principalmente porque, em casos de autismo nível 1 de suporte, os sintomas podem ser confundidos com timidez, ansiedade social ou características de personalidade, atrasando a busca por ajuda especializada.
Além disso, o chamado “masking” ou “mascaramento” é um mecanismo que muitos adultos autistas desenvolvem para tentar se adaptar ao convívio social (calculando o que é socialmente intuitivo para a maioria dos indivíduos), disfarçando suas dificuldades e comportamentos que seriam considerados incomuns. Essa estratégia, embora ajude a enfrentar o dia a dia, pode gerar desgaste emocional e ansiedade.
Sinais de Autismo em adultos
Se você ou alguém que você conhece apresenta algumas das seguintes características, pode ser interessante investigar a possibilidade de autismo:
- Dificuldade para manter ou iniciar conversas e relacionamentos sociais.
- Preferência por rotinas rígidas e desconforto com mudanças inesperadas.
- Interesses fixos e altamente restritos (forte apego a objetos incomuns, interesses por temas específicos (hiperfoco).
- Sensibilidade aumentada ou diminuída a estímulos sensoriais como dor/temperatura, reação contrária a sons ou texturas específicas, fascinação visual por luzes ou movimento.
- Movimentos repetitivos ou comportamentos autoestimulatórios (stimming).
- Dificuldade em entender nuances sociais, como sarcasmo, expressões faciais, quando e como entrar em uma conversa, o que não dizer.
- Sensação frequente de esgotamento emocional após eventos sociais.
Autismo e identidade: racismo e capacitismo no diagnóstico
Um ponto importante sobre o autismo em adultos é que fatores sociais influenciam muito o acesso ao diagnóstico e ao tratamento. Mulheres, pessoas negras e pessoas de classes sociais menos favorecidas enfrentam barreiras maiores para serem reconhecidas como autistas, devido ao preconceito, racismo e capacitismo presentes na saúde e na sociedade.
Como é feito o diagnóstico do Autismo em adultos?
O diagnóstico em adultos é clínico, realizado por médicos (geralmente psiquiatras ou neurologistas), além do apoio de uma equipe multidisciplinar.
Muitas vezes, a busca começa após um diagnóstico em familiares ou a partir de dificuldades sociais percebidas pelo próprio indivíduo.
O processo envolve uma avaliação detalhada do histórico de vida, comportamentos e sintomas atuais. Pode incluir entrevistas, observações e testes específicos. É importante que os profissionais estejam preparados para reconhecer o autismo em suas manifestações mais sutis e na diversidade de experiências das pessoas.
Muitos adultos autistas também convivem com outras condições, chamadas comorbidades, como:
- Transtornos de ansiedade e depressão.
- Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
- Distúrbios do sono e alimentares.
- Epilepsia.
Essas condições podem complicar o diagnóstico e o tratamento, exigindo um olhar cuidadoso e personalizado.
Além disso, a vida adulta traz desafios próprios: dificuldades para manter emprego, lidar com relacionamentos amorosos e sociais, e administrar mudanças inesperadas. O “masking” pode causar um esgotamento emocional chamado burnout, um estado de exaustão que afeta o bem-estar do autista.
Tratamento e apoio para adultos autistas
Embora não haja cura para o autismo, existem muitas formas de tratamento e suporte que visam aumentar a autonomia, o autoconhecimento e a qualidade de vida do adulto autista.
O tratamento ideal envolve uma equipe multidisciplinar que pode incluir:
- Psicólogos e psiquiatras para acompanhamento emocional e tratamento das comorbidades.
- Terapeutas ocupacionais para desenvolver habilidades sociais e funcionais.
- Fonoaudiólogos para trabalhar comunicação, quando necessário.
- Nutricionistas e fisioterapeutas, conforme as necessidades individuais.
A terapia é fundamental para ajudar na gestão da ansiedade, desenvolvimento da autoestima e aprendizado de estratégias para enfrentar o cotidiano.
Por fim, é essencial que a sociedade compreenda que o autismo é uma forma legítima de ser e estar no mundo. Adultos autistas merecem respeito, apoio e inclusão em todos os espaços — na família, no trabalho, na escola e na comunidade.
Reconhecer o autismo em adultos é também uma forma de combater o apagamento e garantir que essas pessoas tenham a chance de viver de forma digna.